sábado, 7 de fevereiro de 2015

Ninguém é responsáveis pelo meu mal-estar... nem pelo meu bem-estar


Levei uma vida a acreditar que ''os outros eram os responsáveis pelo meu mal-estar''.

Quando me tiravam as coisas do lugar onde tinha colocado, quando desarrumavam o que eu tinha arrumado, quando não me davam razão ou não tomavam partido a meu favor, quando me chamavam à atenção ,
quando não diziam o que eu queria ouvir, quando não me davam atenção como eu queria, quando não davam valor ao que eu fazia, quando me davam instruções, quando me corrigiam... uma vida a acreditar que o mundo estava contra mim, uma vida a pôr nas mãos dos outros o meu poder...

Tenho memória de que com 4/5 anos terei começado a acreditar nisto, inconscientemente: sentia que o pai e a mãe eram os responsáveis pelo meu mal-estar, sempre que não faziam o que eu queria, sempre que não cediam às minhas birras.

O pai e a mãe nunca foram os responsáveis pelo meu mal-estar. Esta tarefa era apenas minha.
O meu mal-estar era provocado pelas histórias que comecei a contar, desde muito cedo àcerca do que via e vivia. Inocência de criança.

Cresci com esta crença, e ao acreditar nesta versão, acreditava também no oposto ''os outros são responsáveis pelo meu bem-estar''. Na minha história de vítima, a culpa era sempre do exterior, dos outros. Para que eu estivesse bem disposta, contente e para poder desfrutar a vida acreditava que necessitava que se comportassem de forma diferente,  que as coisas acontecessem à minha maneira ...

A crença passou a viver em todas as áreas da minha vida, nas relações, na escola, na saúde, ...
E chego a adulta... o drama continua ...

* O dinheiro ou a falta dele é responsável por eu não fazer o que gosto e trabalhar por obrigação
* O filho é responsável pela minha irritação porque não ouve nada do que lhe digo e devia ter levado o impermeável quando estava  chover
* A filha é a causadora da minha frustração porque chumbou o ano
* O patrão é o culpado da minha situação porque não me deu o aumento que eu queria
* O pai tem a mania de me dar conselhos e eu não tenho de ouvir porque já sou adulta
* O chefe não tem o direito de me mudar de lugar ou de me dar ordens

E o oposto . '' O meu bem-estar depende do que acontece no exterior'': Tenho um filho que é um doce é o responsável pela minha felicidade como mãe.  A amiga ouve todas as minha queixas e não me censura, quero ter sempre esta pessoa ao meu lado. O companheiro, é tão bom para mim, gostamos das mesmas coisas, temos os mesmo ideais. Fui promovida a chefe de secção e o meu trabalho é muito valorizado na empresa. Tive um acerto no ordenado e agora já posso investir naquilo que gosto. Fiz uma operação plástica, estou mais magra e agora sim gosto de mim, tenho um emprego onde gosto imenso do que faço, tenho uma casa fantástica...

E agarramo-nos com unhas e dentes ao que temos temporariamente, vindo do exterior, como se fosse algo adquirido e permanente... até a vida dizer ''agora ficas sem aquilo a que te agarras para que possas descobrir por ti que o bem-estar e o mal-estar têm a ver com o que está no teu interior e de que ainda estás inconsciente. Volta-te para ti! Descobre e liberta-te !''

E são os amigos que seguem a sua vida para outros lugares, e não tem a ver comigo; o patrão resolve despedir-me e nao tem a ver comigo ( a vida está a preparar algo melhor para mim); o filho não leva o chapeu de chuva... não tem a ver comigo (ele é capaz de descobrir por si, talvez depois de uns dias de cama); o companheiro morre e não tem a ver comigo (Tenho capacidade para seguir a minha vida sozinha); a filha chumba o ano, e não tem a ver comigo  (a vida a pedir-lhe para aprender algo).

Comigo, foram anos de luta com a vida , com as circunstâncias e um desgaste mental, emocional e físico e eram apenas pensamentos por investigar. O poder destrutivo que uma só Crença tem nos dramas do quotidiano que se vivem no Presente, quando não  investigada!

Nos dramas humanos, não se encontra apenas uma, são várias. Descobri-las e questioná-las é o que permite que entrem novas crenças e paz naquele momento.

Esta crença, nas experiências que vivi até hoje ensina-me que apenas os meus pensamentos me podem fazer sentir mal, se acreditar nas histórias da minha mente ou nas histórias que outros contam de mim. Não falam de mim. Falam de si ! São também as suas histórias.

Só eu tenho o poder de me fazer sentir bem , quando me observo e investigo os pensamentos que me provocam mal-estar. O meu bem-estar só depende de aprender a escutar-me, questionar o que me deixa a sentir mal e seguir o que for melhor para mim.

Quando começamos uma relação de amizade connosco, onde o amor e a integridade por nós estão presentes, nas escolhas e decisões que temos diariamente, desde a roupa que levo para o trabalho, ao almoço que tomo,  ás conversas que alimento durante o dia, inspiramos outros, com ações, sem palavras, a saberem que também têm capacidade de desenvolver uma relação de amizade, amor e integridade para consigo.

Pois é connosco que passamos o dia e a noite; é connosco que vivemos uma vida inteira.

Ângela Antunes

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