A Sombra Humana e o Caminho da Nossa Alma

 

Ângela Antunes - Eu e a minha Sombra

A Dualidade

Neste planeta, a dualidade (experienciar coisas opostas) é algo que existe e nos permite, a nós humanos, aprender, expandir a consciência, evoluir. 

Através da dualidade - a vivência de coisas opostas - podemos ganhar consciência de nós, descobrir quem somos, como somos, quais os nossos talentos e aptidões, viver de acordo com o ser profundo, a Alma.

Quando observo como se comporta o mundo natural, reparo que tudo existe num equilibrio de dualidade: maré alta e maré baixa;  Verão e  Inverno; Sol e Lua; Primavera (renascimento da natureza), Outono (queda da folha e morte). As pilhas funcionam com pólos opostos.

Como poderíamos saber o que é o calor, sem experienciar o frio?

Como poderíamos saber o que é o dia sem a existência da noite?

Como poderíamos saber o que é o alto, sem experienciar o que é baixo?

Como poderíamos conhecer a alegria sem experienciar a tristeza?

Como poderíamos conhecer a bondade sem sentir o que é a maldade?

Como poderíamos conhecer a satisfação sem experienciar a insatisfação?

Tenho observado ainda que no mundo natural nada é desperdiçado. Tudo serve para alguma coisa. Tudo pode ser reaproveitado para um bem-maior. Estou a pensar na minha horta - aprendi a reutilizar restos de legumes e frutas que se transformam em abençoada nutrição; até os dejetos de animais são abençoada nutrição para a terra e culturas. As ervas-daninha não são assim tão ''daninhas''. Possuem várias utilidades. 

Até os animais indesejáveis como cobras, na horta têm um papel se soubermos fazer uso deles. 

A simplicidade da Natureza,  interdependência e troca de sinergias dos seus elementos ensinam-me tanto àcerca do funcionamento da vida e da dualidade. Não há um certo e um errado. Isso são coisas da mente humana que ainda não aprendeu a questionar os pensamentos que nem sequer são seus!

Tudo o que a mente humana pensa, foi aprendido. Não é nosso. Não ´pertence ao Ser.

Quando a mente descobre o beneficio e utilidade dos opostos, daquilo que parece mau/feio e aprende a usar, de forma saudável em momentos apropriados, a dualidade vive-se sem drama numa dança de equilibrio e bem-estar com a vida. É aqui que vivemos bem com a vida. É aqui que nos sentimos bem por dentro.

Dualidade é Diferente de Negatividade

O que temos na Sombra que não é visitado e olhado e sentido à Luz da nossa Consciência Superior, transforma-se em negatividade. É usada de forma prejudicial tanto para nós como para outros, como nas nossas relações. Sentimo-nos mal. É aqui que nos passamos e podemos fazer coisas terríveis.

Quando olhamos, num processo de querer aprender e querer levar a Luz a esses aspetos nossos para que nos ensinem mais sobre nós e nos digam qual o amor que precisam da nossa parte para se integrarem... começamos a viver a dualidade saudável, útil e necessária num mundo cheio de contrariedades, um mundo que é como é. A vida torna-se simples, fluída, compassiva. Sentimo-nos bem.

Neste processo interior, desenvolve-se naturalmente uma relação de amizade (e não de conflito nem de condenação) com a nossa sombra. Começamos gradualmente a resgatar a sua energia construtiva.

Todos temos uma sombra. Vamos ter sempre. Aprendemos a lidar com ela, a conhecê-la e a saber fazer uso dela para um Bem-Maior. Não importa se somos as melhores pessoas do planeta, se somos altruístas e fazemos parte de organizações de ajuda humanitária. Se fazemos o bem e tratamos bem toda a gente. Vamos ter uma sombra enquanto andarmos por aqui.

E... talvez não sejamos assim tão boas pessoas ... para nós mesmos, a relacionarmo-nos connosco, a sermos nossos amigos. Talvez não sejamos assim tão bondosos nem compassivos connosco.

Podemos não querer ou não conseguir admitir que temos um lado bondoso e um lado mesquinho que é útil e necessário; um lado simpático e um antipático que por vezes é necessário; temos uma parte de nós inteligente e outra que faz burrices (assim podemos aprender e continuar a jornada); temos um lado generoso e outro avarento ; uma parte de nós que por vezes está alegre e outra que por vezes está triste; uma parte de nós que sente raiva perante uma injustiça e outra parte de nós compassiva. Temos um lado forte e outro fraco (que pode manifestar-se em áreas diferentes). Às vezes, numas áreas somos corajosos e outras vezes, noutras áreas da vida,  somos cobardes. São alguns exemplos.

Enquanto rejeitarmos aquilo que não gostamos em nós (exemplo ser lento a compreender as coisas ou não saber - é o meu caso), esses aspetos vão para a sombra e tornam-se tóxicos. Acreditava que ''ser lento a compreender '' fazia de mim ''burra'' e eu não queria ser burra. Sempre me esforcei demais para saber tudo e mais alguma coisa. Sempre abusei de mim e só queria mostrar o meu lado ''sabichão''. Prejudiquei-me tanto por não pedir para repetir quando não compreendia algo que era dito. Sentia-me envergonhada por ser assim.  Abraçar o Sabichão ao longo de vários anos, tem-me permitido resgatar o meu lado que ''não sabe''. 

Oh meu Deus quanta aptidão tenho desenvolvido ao permitir-me ''não saber''; o quanto tenho aprendido; o quanto se desenvolveu a capacidade de questionar, investigar; como ''não sei, estou disponível para aprender''. Como esta nova faculdade me tem sido útil em tantas experiências do quotidiano, em tantas relações com pessoas e também para me ajudar neste trabalho de ajudar outros a explorar o seu mundo interior.

Não conseguimos viver em equílibrio interior, na vida diária, sem expressarmos os opostos que fazem parte da nossa natureza interna inata, da nossa consciência.

Outro exemplo:

A Raiva: altamente destrutiva, quer para as nossas relações quer para a nossa saúde a todos os níveis.

Esta energia, resgatada, aprendido o seu ensinamento, possibilita-nos ser íntegros, permite-nos honrar quem somos, ser capaz de dizer ''não posso, não consigo, não me é possivel'' quando alguém está a manipular-nos ou abusar de nós (no trabalho por exemplo - quando exigem de nós horas extras e não somos pagos). Vivi isto muito anos até um dia começar a conseguir dizer ''não'' de uma forma muito respeitosa para mim e que não faltava ao respeito a ninguém na empresa, sem levantar a voz. Cada vez que conseguia respeitar-me, sentia um enorme amor por mim. Imensa energia em mim. Curiosamente, muitos colegas que estavam desejosos de conseguir dizer ''basta'' aos abusos, na empresa, começaram a imitar-me. Passados vários meses, deixaram de pedir horas extras às pessoas. Sem ter qualquer intenção, acabei por inspirar os meus colegas.

A energia construtiva da Raiva também nos permite dizer ''sim'', ter a ousadia e coragem para fazer ou dizer algo algo que desejava muito ou sabia que tinha de ser feito e não fazia por medo. O medo desaparece diante desta energia construtiva (é a minha experiência).

É uma força de vida da qual precisamos para vivermos no mundo TAL COMO ELE É. O mundo nunca vai ser perfeito. Irá sempre haver coisas difíceis. Esta energia RESGATADA (que leva anos a conseguir) facilita-nos a vida - USADA DE FORMA SAUDÁVEL E CONSTRUTIVA. Possui um lado muito compassivo.  Atenção: não faça este trabalho sozinho. Precisa de ser guiado por um facilitador.

A sombra de cada um apenas pede tomada de consciência, pede para ser ouvida, para que possamos saber qual o amor que precisa da nossa parte para se poder integrar saudavelmente e vir em nosso auxílio nos vários momentos da nossa vida.

 Afinal, o que é a Sombra Humana?

Tudo o que não é reconhecido à Luz da Consciência, fica na sombra. Sombra, indica apenas ausência de Luz.

Tudo o que se esforça por ''não ser'',  por não mostrar, o que não gosta noutros, o que não gosta em si e mostra o oposto; o que não reconhece em si ou já terá esquecido ao longo do tempo.  Tudo o que não vive (as coisas que mais gosta e não se dedica a elas). Tudo o que é demasiado doloroso para rever.

Para mim, mais do doloroso do que rever uma situação difícil para tirar dali uma aprendizagem e querer ver a situação com novos olhos para me libertar, são os pensamentos que me atormentam uma vida e me fazem viver o presente a repetir situações, a repetir comportamentos tóxicos e relações tóxicas semelhantes às que vivi no passado! Rever as situações difíceis liberta-nos da dor, do mal-estar e pode desfazer estes padrões, parar a sua repetição quando tomamos consciência de algo e começamos o processo de mudar alguns comportamentos e atitudes, o modo como nos relacionamos connosco, com outros e com o trabalho, com o dinheiro, com a vida.

Aspetos da sombra por reconhecer e amar estão consigo todos os dias, em cada decisão que toma, em passo que dá, com cada pessoa com quem relaciona, em cada área da sua vida e fazem-se sentir de forma prejudicial para si... cada vez que se esforça por ser quem não é de forma a não mostrar quem é para não ser criticado(a) por outros. Cada vez que sente vergonha ou culpa. Cada vez que se sente menos do que outros. Cada vez que fala mal de si, se diminui ou se vitimiza. Cada vez que vive ao ritmo de outros quando dentro de si há algo diferente a chamar por si, a pedir que se escute, que se dê atenção.

Robert Bly chamou ''saco da sombra'', ao lugar do nosso inconsciente onde fica armazenada toda a informação, desde a nossa infância, de tudo o que experienciámos de forma emocionalmente forte (negativo e positivo), de padrões repetitivos dos nossos familiares, da nossa linhagem de familia e ainda os padrões de pensamento da chamada Realidade de Consenso que terá a ver com a programação coletiva da Raça Humana (crenças comuns a todos). Carl Jung, chamou-lhe A Sombra Humana.

A nossa Sombra Pessoal mostra-nos o Caminho da nossa Alma  & para a nossa Alma

Com ''O caminho da nossa Alma'', quero dizer, as experiências de evolução que a Alma precisa que experienciemos na vida que temos para podermos parar, refletir, tomar consciência, re-avaliar o que fazemos, como fazemos, o que pensamentos, o que dizemos, com que nos ocupamos.

Com ''O caminho para a nossa Alma'', quero dizer, o desenvolvimento da capacidade de escutar essa outra voz interior, que nos traz informação diferente (da que a mente intelectual nos dá diariamente) e nos permite descobrir o que fazer em cada momento para vivermos, expressarmos a nossa natureza tanto humana quanto divina. Sem fazer-de-conta. 

A sombra possui o potencial de nos facilitar a relação com essa parte de nós (a nossa LUZ) talvez desconhecida para a maioria. Desse contacto com a parte Profunda de nós, o nosso verdadeiro EU, desenvolve-se a aptidão para conseguir escutar a sua orientação, a escuta interior com um novo sentido a partir de onde podemos ser ponderados e discernir com clareza cada ação que temos, cada relação ou situação onde nos envolvemos, sem nos atirarmos de cabeça, indo atrás de coisas que nada têm a ver connosco, com a nossa Alma e nos afastam mais de nós.

Conscientes e atentos a nós e Presentes para o momento que passa, conseguimos distinguir o que nos é benéfico do que não é, ainda que pareça benéfico. A vida torna-se leve, simples e as relações tornam-se puras e naturais. Começamos a conseguir ver as coisas como são, sem as interpretações que carregamos connosco do passado. 

Explorar e abraçar a sombra pode trazer cada um aqui a este espaço de consciência.

A Sombra possui o potencial de nos fazer percorrer uma jornada interior de auto-conhecimento e encontro com a nossa Alma e a aprendizagem de lições de vida.

Na minha perceção, talvez a Alma empurre amorosa e compassivamente para o exterior, o que temos na sombra esquecido, negado, armazenado, ao longo de uma vida. Assim, ao projetar-se noutras pessoas, em situações, pede-nos para olhar, refletir, ir dentro de nós e descobrir mais de nós mesmos, descobrir sobre os nossos comportamentos, formas de pensar obsoletas que ainda temos e nos afastam da Essência que somos, da Alma e nos podem esclarecer sobre o que necessitamos de repensar ou corrigir em nós ou dar uma resposta diferente.

O que temos dentro da Sombra, possui ensinamentos sábios para nos dar.

À medida que olhamos, acolhemos, compreendemos, reconhecemos esses aspetos da nossa sombra que na maioria das vezes desconhecemos que existem em nós, eles deixam de ser sombra. Passam a estar ao nosso dispôr para nos auxiliar no dia-a-dia.

Na minha experiência e vivência, somos ajudados por algo Maior a fazer este trajecto quando entramos nele. A nossa Alma, o Criador vem em nosso auxílio. Para mim, é a nossa LUZ que nos ajuda a explorar e atravessar e a aclarar e integrar a nossa sombra.

É tudo sentido na pele, em cada célula, no corpo, emoções que nos elevam, pensamentos que nos elevam. Um sentimento de grandeza pura e genuina cresce dentro de nós, sentimentos de elevação quando olhamos para nós, para outros e para o mundo em geral. A compaixão cresce dentro de nós. Desaparecem culpas, condenações, julgamentos... Por dentro ''sabemos''. Algo inato em nós faz-nos saber.

Neste processo de exploração e abraço à nossa sombra, levando-lhe a Luz que precisa (perdão, compaixão, bondade, aceitação, amizade, ...) para que se integre em nós saudavelmente, estamos a dar contribuição ao mundo. Estamos a dar contribuição à consciência coletiva humana (há varias fontes terrenas e não só que falam disto). Estamos a resgatar sombra coletiva.

Tudo o que vejo no mundo e me incomoda, causa mal-estar, tem uma correspondência dentro de mim, dentro de si, dentro de todos. Eu só posso trabalhar-me a mim.

Talvez isto não seja algo pequeno.

Talvez a Fonte da Criação e a Alma individual tenham um mesmo interesse: o resgate da minha sombra individual , não apenas por mim mas porque quando me trabalho interiormente, há um impacto no coletivo.

No processo de explorar e abraçar o que temos na sombra de escuridão (medos, fragilidades, falhas, frustrações, angústia, vergonha, culpa...) a nossa Luz revela-se. O regresso ao Amor que somos. É o desejo da nossa Alma. A Sombra é parte deste processo grandioso de evolução de consciência.

O regresso ao ser humano completo e equilibrado onde a depressão não entra!

A Formação da Sombra de Escuridão e da Sombra de Luz

Se em crianças nos sentimos abandonados, ignorados, humilhados, envergonhados, se fomos criticados por termos as caracteristicas que tinhamos - muito ou pouco agitados, muito faladores ou muito calados, com boas notas ou más notas; simpáticos ou antipáticos; são só alguns exemplos. Começámos a esconder partes de nós e a mostrar aos adultos apenas aquelas que sabíamos serem aceites. As nossas características menos agradáveis em sociedade começam a ser reprimidas - e começam a forma o ''saco da sombra''.

Ou talvez ainda:

Se éramos muito talentosos a cantar, a dançar, a desenhar; se tínhamos capacidade de liderança ou de comunicação ou já mostrávamos talento para a culinária ou para organizar coisas e, se algum adulto se riu de nós, se criticou algum destes talentos ou se nos expôs diante de outros (mesmo sem intenção de o fazer) e nos sentimos envergonhados, o mais certo é que tenhamos começado a ocultar aqueles talentos. Desistimos deles. Foram formar a Sombra de Luz. Esses talentos continuam dentro de nós, ocultos, à nossa espera.

Talvez um sentimento de ''não ser merecedor'' ou algo que lhe diz ''não presto'' ou ''sou um erro que não devia andar aqui'' estejam a impedi-lo/a de manifestar quem é no dia a dia, expressar a sua natureza inata; falar o que pensa e sente, ou até recusar-se a fazer parte de algo que não tem a ver com o seu íntimo mas que tem medo de consequências do que outros possam dizer ou fazer.

Se é facilitador/terapeuta numa área de abordagem espiritual

Tenha em mente de que não existe caminho de Espiritualidade sem atravessar a sua sombra. Quanto mais se esforça por apenas mostrar o seu lado bom e a sua Luz e mais se esforça por ''não ser o outro lado que existe em si'' mais a sua sombra será reforçada energeticamente e maiores os danos que causa nas suas relações, nas finanças, no trabalho, no quotidiano em geral e dentro de si.

Sobretudo se é um terapeuta/facilitador de processos de Energia e Luz, devo lembrar que a Luz precisa de si inteiro(a) e completo(a) para se expressar genuinamente e o que irá fazer é remexer no seu subconsciente e mostrar-lhe o que não quer ver em si, por exemplo, trazendo-lhe clientes que lhe mostram esses aspetos para que os possa trabalhar em si. 

Tive essa experiência várias vezes. Clientes meus mostram-me aspetos que me incomodam bastante, que me irritam, que me angustiam. Eram apenas aspetos meus que necessitava de reconhecer. Precisava de lhes dar atenção. Enquanto não consegui resgatar toda a informação e fazer alguma mudança, os meus clientes eram difíceis, nas sessões. Tive dificuldade em levar adiante o trabalho.

Tive de olhar para dentro e fazer o meu trabalho. E vi coisas incríveis acontecer. Mudanças repentinas nos seus comportamentos. Consciente de mim, soube que o trabalho estava feito, em relação àqueles aspetos que eles me mostravam.

Por isso, tudo o que lhe aparece à frente, tem a ver com projeções da sombra que são suas!

Ângela Antunes

Facilitadora de Resgate da Sombra Humana com Educação Emocional numa vertente de Espiritualidade (por Emídio Carvalho)

Facilitadora de Cura Reconectiva e A Reconexão Pessoal (por Dr Eric Pearl)