sexta-feira, 25 de novembro de 2022

Carcinoma na Mama e Eu - Quando a Vida muda tudo (Parte 1)


 

 ''Vida, é o que acontece enquanto fazemos planos''

Não sei quem escreveu isto e também não me dei ao trabalho de ir pesquisar.  Verifico que é verdade.

Há sempre coisas que queremos fazer. Imaginamos que sabemos o que é melhor para nós. Temos planos para tudo, para a carreira, para as férias, para uma atividade, para fazer com a família, para nós, ainda que pareçam grandes ideais. É bom fazer planos. O que não é assim tão benéfico ficarmos agarrados e completamente fixados neles! 

Todos temos pequenos desafios diários. E de vez em quando a vida apresenta-nos grandes desafios. E paramos tudo.  É a vida a pedir-nos para vivermos, experienciarmos algo diferente.

A vida lembra-nos que há coisas que teimamos em não querer ver, em não querer aprender. Talvez este seja o momento apropriado para parar, olhar, refletir e descobrir algo que precisamos reconhecer sobre nós ou sobre a nossa vida. Sobre as nossas relações e atividades.

Sempre que passei por grandes desafios, aqueles que abanam toda a ''estrutura'', dei por mim naturalmente a rever a minha vida desde o começo. Comecei a fazer isto ainda em criança, com uns 10, 11, 12 anos. E continuei pela adolescência. Ponho tudo em causa, o que penso, o que faço, como vivo, quem tenho ao meu lado, com quem me dou, as minhas atividades e mais coisas.

Desta vez aconteceu algo semelhante.

Em Outubro de 2021, fiz uns exames mamários de rotina que indicavam a presença de uma massa que precisava de ser investigada. 

Senti-me gelar por dentro. Fiquei imobilizada. A seguir, um medo do desconhecido. E a mente começa a trabalhar. Fiquei comigo, em silêncio várias horas. A Refletir... Surgiu aquela tal pergunta que eu pensava que já não iria aparecer-me. E Enganei-me.

«Porquê eu?»

A mente a seguir diz-me «Como é possivel, depois de tantos anos a trabalhar crenças, a fazer as pazes com o passado, trabalho da sombra pesado e leve, o que é isto agora?

E a seguir surgiu dentro de mim, outra pergunta muito natural «E porque não eu?.»

Senti uma leveza, um alívio inexplicável por palavras. A minha mente ficou recetiva e deu-se início ao processo de questionar pensamentos que aprendi no Trabalho da Sombra e que uso na minha vida diária e também com os meus clientes.

A mente foi-se aquietando, fui ficando esclarecida, o medo desapareceu e eu entrei num estado de quietude. Fiquei comigo horas e dias , em silêncio. A processar, em contacto com o meu Eu Profundo.

Só quando cheguei a um certo estado de tranquilidade interior e confiança interna '' naquilo que a vida traz é sempre o melhor para nós no momento. É sempre o que precisamos'' é que comuniquei à familia. 

Nesta altura, não havia qualquer confirmação médica de haver alguma situação cancerígena. Era apenas a minha mente a fazer filmes.

Revi a infância e adolescência, os relacionamentos, as atividades, os comportamentos, os hábitos repetitivos, o trabalho que foi feito, o que mudou em mim e o que ainda se repete e me convida a trabalhar agora.

Duvidei de tudo o que aprendi nas áreas holisticas inclusivamente nas minhas atividades atuais como terapeuta do Trabalho da Sombra e A Reconexão. Havia um pensamento que me dizia que ''se há anos que me trabalho e trabalho com outros, como isto é possivel? Pois é.  A vida lembrou-me mais uma vez quem está ao comando! Não sou eu! Santa Ignorância minha e Arrogância!

Uma coisa sabia... «O que está aqui é para se viver, agora. Tomar consciência de mim e do momento e explorar ''o que posso aprender com isto?'' Ok então vamos lá viver isto da melhor maneira. O que é para fazer a seguir?»

Lembrou-me mais uma vez que o trabalho interior é um processo de uma vida. Vamos ficando em paz com umas coisas e estamos aptos a viver, experienciar novos pequenos e grandes desafios. Um processo evolutivo de Consciência e amadurecimento. 

Lembrou-me que a vida é inclusiva, inclui saúde e doença, tempo de ação e tempo de quietude para ficarmos connosco a escutarmo-nos; a vida inclui dias de sol, dias de chuva. Inclui a noite e o dia. Inclui emoções variadas que vêm como mensageiros. 

Lembrei-me que a vida inclui terramotos, guerras, momentos deliciosos de contemplação do mundo natural que nos ensina sobre o funcionamento da vida se estivermos muito atentos. Inclui a alegria da brincadeira e do convívio e inclui momentos de solidão que podemos aproveitar e transforma-se em solitude (hoje, sou naturalmente uma pessoa de solitude que também está bem no meio de outros).

Lembrou-me que não estou a ser inclusiva com tudo, sobretudo com aspetos meus que há anos trabalho e com os quais ainda não fiz as pazes por completo.

Fazer as pazes, não quer dizer que tudo é aceitável. Simplesmente incluimos a nossa humanidade, reconhecemo-la, paramos de a rejeitar. Permite-nos tirar os beneficios e maleficios. Ganhar consciência de nós e descobrir o que fazer em cada situação, de uma forma benéfica. Aprender. E acabam por se integrar. Deixam de causar danos e nós e a outros.

E o processo começou a decorrer. Próximo passo: ir ao médico mostrar exames. Fui.

«O médico, sábio e muito prático, disse-me algo que precisava de escutar, lembrar e que muitas vezes esqueço: «Não vale a pena fazer dramas porque isso até prova em contrário não é nada. Hoje em dia a medicina já tem bastantes ferramentas. É um passo de cada vez, um exame de cada vez, uma consulta de cada vez e vai-se desenrolando. E não vale a pena perguntar sobre o que se vai passar lá mais para a frente porque nós também não sabemos|»

TENHO VIVIDO COM A PERGUNTA MÁGICA:

O que é para fazer a seguir?

Escolhi o IPO para fazer a dita Biópsia. O diagnóstico deu ''Carcinoma XYZ Não-Invasivo''. Eu nem sabia o que queria dizer ''não invasivo''. Pedi ao médico que me explicasse  e me falasse do passo seguinte. 

«Isto tem de ser tirado! Vamos preparar a documentação, fazer exames pré-operatórios e marcar a cirurgia»

Cá dentro de mim ''Fo....d......se!''. Não esperava isto! Que chatice. Tinha uns quantos planos. Agora pára tudo! Ok vamos lá fazer isto. Estava bastante contrariada com esta partida da vida como se eu ainda acreditasse que ''somos nós que fazemos acontecer''. Tretas que nos ensinam (nós só acreditamos se quisermos!!!).

Limitei-me a querer saber apenas o próximo passo. Não senti necessidade de ter mais informação.

Cá dentro de mim, na minha mente ouvi: ''vais perguntando à medida que os acontecimentos vão decorrendo. 

Não consegui acreditar que houvesse qualquer situação cancerígena na minha mama. Não encontrei provas. Não tinha sintomas. Não me sentia mal. ''Pode fazer a sua vida normal, inclusivé pegar em sacos de compras''. ''Ok assim fiz. Além da conclusão médica, eu não tinha provas em mim. 

Não encontrar ''provas'' permitiu-me ficar em paz com a situação. Houve uma mudança enorme em mim naquele momento. Tudo estava em aberto. Não havia uma ideia de um ''desfecho final''. Ótimo!

Fiz imensos exames, tive imensas consultas, fui ao IPO imensas vezes, fui como quem vai a uma loja, ao supermercado,  ao Banco. O drama tinha desaparecido. 

Fiquei também surpreendida porque no IPO não encontrei dramas. A vida ali acontecia de uma forma inclusiva, passo a passo, tratamento a tratamento. As pessoas encaixaram aquela rotina com maior ou menor dificuldade.

Estava ciente de que o que via ali, era um reflexo do meu estado interior - sem drama. Era como uma situação natural, banal. Dentro de mim não existia medo, nem dúvida nem perguntas de espécie nenhuma! Não é explicável por palavras. Um estado de sentir, estar, apenas.

Indica-me que a experiência tinha-se integrado dentro de mim.

Esperei uns 4 meses pela cirurgia (atrasos devido aos confinamentos, foi o que me explicaram. Ok os casos graves vão à frente!) e pensei ''otimo que isto ainda demora. Tenho tempo para tratar da horta, atender clientes e fazer mais umas coisas. 

Foi um tempo abençoado que vivi, aquele tempo de espera pela cirurgia.

De vez em quando lá vinha um pensamento que me causava stress, angústia, medo. Precisamos de estar muito atentos a nós para conseguirmos dar conta destes pensamentos e trabalhar sobre eles. Descobri o que estava por detrás, investiguei, descobri a verdade e o pensamento desapareceu. 

Deu lugar a outros que me fizeram voltar à paz interior e dedicar-me às rotinas.

E chegou o dia mais divertido onde me ri tanto que já me doía a barriga. Foi uma surpresa e um prazer estar ali e viver aquilo: o dia da cirurgia e a ida para o bloco operatório que aconteceu em Abril deste ano 2022. Desde brincadeiras, anedotas, cantigas, ali tudo acontecia, por parte dos médicos, enfermeiros, auxiliares e até pacientes que aguardavam a sua vez, pacientemente.

Adormeci a contar à equipa como podiam usar Urtigas na horta como composto e seus benefícios na alimentação, uma vez que uma enfermeira disse que tinha uma horta cheia de ortigas e não sabia o que lhes fazer.

Restante informação para próximo texto.

Até breve,

Muitas bençãos,

Ângela Antunes

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