segunda-feira, 22 de dezembro de 2014

Presentes de Natal & Presentes da Sombra



Era uma vez … uma tradição de muitos muitos anos que dizia que ‘’tínhamos’’ de oferecer presentes nesta época, ao que alguém chamou de Natal.  Trocamos presentes porque crescemos a ver fazer e nem questionamos tal costume.

E assim, também eu andei em piloto automático a seguir o que a sociedade dizia que se ‘’devia fazer’’ e sem questionar . Em cada Natal, era uma dor de cabeça … as listas de pessoas, as listas de presentes, não querer repetir os presentes do ano anterior, e a preocupação de a pessoa não gostar e lá ia o subsidio de Natal quase todo e no fim  sentia  um ‘’vazio’’.

Às vezes comprava presentes que não me apetecia, para oferecer a pessoas que nada me diziam (a tradição dizia : ‘’ se dás a uns tens de dar a outros’’!).  Escolhia presentes de baixo valor para poder dizer que tinha oferecido algo e depois dizia à pessoa ‘’ah, é só uma lembrança ’’. Sentia-me menos mal comigo. 
Às vezes recebia presentes de alguém inesperado e uma vez dei por mim a pensar ‘’oh, agora tenho de comprar algo para retribuir!’’ E lá comprei um sabonete perfumado !Era tudo em nome  da  ‘’Boa-vontade’’ da Época.

Depois, ficava à espera que abrissem os presentes à minha frente para me certificar de que gostaram. Interpretava a reação da pessoa, à minha maneira: ''se não faz uma exclamação grande, não gostou'', se abriu e pousou logo, ''não ligou nenhuma. Para a próxima não leva nada''. Deixava-me incomodar pelos pensamentos que tinha, umas vezes contra o outro, que não se comportou como eu esperava; outras vezes contra mim porque ''não era importante'' ou ''não tinha jeito para escolher presentes que as pessoas gostassem''. 

Às vezes, apetecia-me fazer algo diferente, que há muito queria, mas não me atrevia para não me chamarem ''ovelha ranhosa''. Quando acreditamos que precisamos que gostem de nós, abdicamos de quem somos, da nossa autenticidade.  Muitas vezes deixamo-nos manipular com receio de perder a atenção das pessoas de quem gostamos.  

Costumava  desculpar-me (as piores mentiras são as que contamos a nós mesmos) ‘’Compro presentes porque tenho prazer em oferecer’’. Se a pessoa não agradecia eu pensava ou dizia ‘’Nem foi capaz de dizer alguma coisa!’’. Afinal onde estava a verdadeira generosidade? Aquela que não precisa espera em troca? Podia até não comentar com ninguém e ficar com os pensamentos cá para mim, o que vai dar no mesmo. 

A Sombra alimenta-se disto. Assim já tinha motivos para continuar a lamentar-me que a vida não era como eu queria e o dinheiro não era suficiente! Continuava a acreditar que era uma vitima das circunstâncias e que não podia fazer as coisas que mais gostava, porque havia sempre outros.

Não será  o que a maioria de nós,  humanos vive ?

Na verdade importava que pensassem bem de mim e o meu comportamento girava em torno disso. Era a necessidade de ter aprovação, apreço e atenção de outros.

Por acaso, só por acaso, soa-lhe a familiar ?

Tinha pavor que descobrissem que era fria e distante, indisponível, egoísta,  insensível e ingrata.  

Descobertos os benefícios de possuir estas características, reconheço e estou cada vez mais em paz com a minha humanidade. 

A propósito, o que tem mais medo que descubram àcerca de si ? E se estivesse bem com todos esses seus aspetos? Não há como fugir deles. Eles terão vida própria dentro de si e surgem quando estamos distraídos e desatentos.

Depois entrou o Trabalho de Sombra e comecei a questionar, a pôr em causa, a ir dentro e escutar… 

No Natal de 2010, surgiu a decisão de não oferecer Presentes. Comuniquei  à família com quem me iria reunir, sugerindo que em vez de ‘’presentes’’ fosse oferecida a ‘’Presença’’. Para minha surpresa, a ideia foi bem acolhida, pelo que não voltou a haver troca de presentes, apenas a presença das pessoas. 

Quando nos trabalhamos, algo no interior começa a mudar … e os Presentes da Sombra começam a chegar . É nos incómodos que temos que podemos encontrar as bênçãos da Sombra. 

Para isso é necessário parar um momento e reparar no que estamos a sentir, o que estamos a pensar.

Recusar um convite. Não me sentir obrigada a retribuir presentes. Oferecer apenas quando tenho vontade de o fazer, fazê-lo por mim, pouco importa se gostaram ou não, eu gostei! Foi das coisas boas que me aconteceram com este trabalho da Sombra.

Neste Natal, acompanhe-me neste parar um momento, observar o que vive e reparar no que sente, sem julgamentos. Tomar nota nos pensamentos que aparecem.  Abstenha-se de entrar em conversas apenas porque receia ficar calado ou então receia dar uma opinião diferente. 

Não temos de dar opinião. Poderemos  dizer apenas ''a minha experiência não é essa'' e nada mais.
Calados,  escutamos mais, observamos mais. Abstenha-se de enviar mensagens pelo telemóvel se não lhe apetecer, só porque receia que possam pensar mal de si. 

Quando disserem ou fizerem algo que o incomoda, mergulhe dentro de si e pergunte-se: ''onde será que já fiz algo parecido?''
Todos à nossa volta são um espelho nosso. O inverso também é verdade. 
Cuidemos apenas da parte que podemos alterar: a nossa.

Os Presentes da Sombra nunca poderão ser igualados ou substituídos por outros trocados nesta Quadra. Os Presentes da Sombra preenchem-nos na totalidade. O regresso a mim … um Ser Completo e Equilibrado!

Normalmente, os encontros de familia, a sombra de cada indíviduo e o da familia, aparece. É mais um membro que se senta à mesa!

Nesta Quadra desejo-lhe todas as bênçãos que a sua Sombra guarda, pacientemente, à sua espera! à espera que se torne consciente de si e do que acontece à sua volta!

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Sessões Individuais de Trabalho de Sombra LISBOA (Espiral) e Odivelas Norte (Quinta Nova)
Ângela Antunes, Facilitadora do Trabalho de Sombra
Educação Emocional assente em Espiritualidade
Email: abracarasombra@gmail.com

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