quarta-feira, 31 de agosto de 2016

Quando queremos resolver os assuntos de outros

Quando queremos resolver os assuntos dos filhos, do companheiro, da mãe ou de outra pessoa,  para poupá-los  a  determinadas experiências e evitar que sintam determinadas emoções que acreditamos serem más,  estamos a transmitir-lhes  que são uns incapazes, que não conseguem encontrar as suas próprias soluções.

Estamos  a impedi-los de experienciar a vida por si,  de  amadurecer,  de se encontrarem com quem são de verdade. De conhecerem as suas próprias capacidades e limites humanos.
Haverá exceções. Por exemplo, se existe um pedófilo na área da escola, não irei dizer aos meus filhos para irem passear com ele;  se a mãe cai na rua com frequência, talvez  possa ver com ela uma solução para que ande mais vezes acompanhada, sem a impedir de sair, se isso lhe dá prazer; ou encontrar outras alternativas.

Não tenho de decidir nada por ninguém. Posso ouvir a opinião a opinião que têm e nada mais.

Quando pergunto que querem ajuda e dizem-me ‘’não’’,  posso ficar descansada. Vejo pessoas capazes e suficientes de encontrarem o melhor para si e por si. Há respeito por mim e pelo outro.

Dentro de mim, algo me diz, agora,  que determinadas experiências, sendo stressantes no momento em que as vivemos, trazem coisas boas a cada um se estivermos dispostos a encontrar o ‘’bom’’ no ‘’mau’’.

Eu sou livre quando torno os outros livres. Para serem quem são e para experienciarem a vida tal como são, como for melhor para si, mesmo que eu não concorde. O que é bom para mim pode não ser bom para outros. 

Sem a minha necessidade de querer controlar o que se passa, a vida torna-se mais leve. 

Quando um pai e filho adultos discutem, só sei que é bom para eles porque está a acontecer. Não sei que experiências de amadurecimento estão ali a ser desenvolvidas. O assunto não é comigo. Não tenho de me envolver, como mãe ou companheira. Antes, tomava partido na discussão. Agora respeito o processo deles.

E posso voltar a atenção e abraçar quem sou nos meus conflitos. 

Dei conta de que a vida é um encontro a tempo inteiro connosco.

E que direito tenho eu de querer impedir os outros de se encontrarem consigo próprios?

Quando estou a querer interferir na vida de outros, estou a ausentar-me da minha vida. 
Estou a impedir-me de experienciar o amor verdadeiro dentro de mim, por mim e pelos outros.

Quando quero resolver os assuntos de outros (e pode ser até, num curso ou workshop quando um formando reage ao que o formador diz, defendendo que ''não concorda'' e um colega sai em defesa do formador ou vice-versa), talvez seja apenas eu a sentir-me incapaz de lidar com a situação ou talvez um medo de algo . 

Ou talvez eu me tenha sentido incapaz e impotente ou com medo, nalguma situação do passado que ainda está por cicatrizar e agora leva-me a querer resolver situações por outros, talvez saia em defesa de outros ou na minha própria defesa,  talvez isso acalme algo dentro de mim. A minha experiência mostra-me que poderá apenas momentaneamente dar-me paz. Na verdade, o desassossego permanece dentro de mim.

Observo ainda que viver é cair e levantar, é errar e aprender, ou não…e que não há erros. 

Tudo acontece pelo nosso bem maior e pode levar-nos a relações mais maduras, connosco e com os outros. 
Poderá levar-nos à tomada de consciência de quem somos, das nossas forças e fraquezas. Dos nossos limites humanos. 

Do encontro com o amor em nós, conseguimos ver os outros com amor. O amor inclui tudo o que são e tudo o que vivem, assim como tudo o que somos e todas as experiências que vivemos.

A vida funciona como funciona, as pessoas são o que são, fazem o que fazem e muitas vezes não se encaixam nos nossos conceitos de funcionamento!

E podemos ficar bem connosco, com os outros e com a vida se ficarmos quietos a observar e ouvir o que as circunstâncias, os outros, nos estão a querer mostrar de nós próprios que ainda não reconhecemos em nós. E essa informação chega de dentro de nós e não de fora! 

Não me transformo numa pessoa passiva ao tornar-me consciente de mim nos dramas que vivo. Posso tornar-me responsavel pelos meus comportamentos, ainda que eu não tenha poder para controlar as circunstâncias da vida.

Investigue e descubra por si! 

Ângela Antunes

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