terça-feira, 21 de março de 2017

Quando fazemos por outros o que lhes compete a eles, estamos a impedi-los de se tornarem conscientes de si

Quando fazemos por outros aquilo que lhes compete a eles, estamos a impedi-los de fazerem aprendizagens, de descobrirem capacidades que possuem. Estamos a dizer-lhes sem palavras que são uns ‘’incapazes’’ e a querer torná-los ‘’dependentes’’ de nós. 

Retiramos-lhes a oportunidade de fazerem descobertas valiosas e úteis para si. 
Estamos a impedi-los de se tornarem conscientes de si.
Por detrás de muitos gestos nossos encontram-se ‘’necessidades’’ ocultas.
Por detrás de gostar e querer ‘’ser prestável’’, lá bem no fundo, estará, muitas vezes uma necessidade antiga, de chamar a atenção de outros ‘’Estou aqui. Sou importante. Presto. Tenho valor’’.

À medida que nos tornamos mais observadores e conscientes dessas coisas ocultas que movem  os nossos comportamentos - que nos levam a fazer coisas para agradar a outros e a afastar-nos de quem somos -  e à medida que começamos a questioná-las, naturalmente começamos a ter comportamentos mais íntegros e amorosos para connosco e que nos aproximam de quem somos na Essência.

É aqui que poderá surgir o discernimento  de quando ‘’ser prestável é sinónimo dar  ferramentas,  em vez de fazer o trabalho pelo outro’’ . O outro poderá fazer ou não. Já não é da nossa conta. A experiência, aprendizagem e a descoberta passam a ser suas.

’Ser prestável’’ é um atributo da nossa natureza humana.
É diferente quando  ‘’ser prestável’’ é um comportamento movido por uma necessidade de agradar ao amigo, ao filho, a um colega; acreditar em coisas como …

’eu tenho de fazer o que penso que o amigo espera que eu faça, quando me pede ajuda, porque os verdadeiros amigos estão cá pró que der e vier e têm que estar sempre disponíveis mesmo que isso signifique não respeitar a minha vontade naquele momento’’.

‘’se não estou sempre disponível para a mãe, significa que sou uma má filha’’

‘’se não ajudo o filho a fazer os trabalhos para levar para a escola corrigidos, passo por  má-mãe e mãe-que- não- se- importa’’.

Quando não damos ‘’o peixe já pescado e lhes damos ferramentas para pescarem sozinhos’’, damos-lhes a oportunidade de descobrirem por si o quanto são capazes, o quanto têm valor e ainda de se tornarem conscientes dos seus limites, das suas fraquezas, das suas falhas, das suas vulnerabilidades que nos tornam a todos Humanos.

Quando deixamos os outros experimentar, falhar e descobrir por si, estamos a mostrar-lhes que são capazes e que é OK falhar. É assim que aprendemos e crescemos e amadurecemos. E assim tornamo-nos mais capazes de assumir responsabilidade pelos nossos comportamentos em vez de ficar á espera que sejam os outros a trazer soluções à nossa vida.

O que fazem com esta aprendizagem… não é da nossa conta!

As nossas capacidades não se desenvolvem se outros fizerem o que nos compete a nós fazer, seja para nos facilitar a vida, seja para não passarmos por desafios, seja por outra razão.

Muitas vezes, cruzarmo-nos com pessoas que ‘’não são prestáveis’’, numa determinada situação, num determinado momento,  é o melhor que nos pode acontecer.

Quando começamos a escutar-nos e a seguir o que sentimos, à medida que nos respeitamos mais um pouco, em cada momento e na presença de qualquer pessoa, surgirá a informação (dentro) do que for apropriado ser ou fazer, naquele momento, sem as estórias da mente que vê tudo como ''certo e errado''.

Por vezes é algo tão simples quanto uma sensação de bem-estar no corpo (significa ‘’sim’’) e/ou uma sensação de ‘’desconforto’’ no corpo significa ‘’não’’.

Ninguém consegue, de forma autêntica, ser prestável, disponível, bondoso a tempo inteiro. Ninguém tem de ajudar tudo e todos, em todas as alturas. Ninguém tem de ser prestável quando dentro de si há uma vontade de, naquele momento, não estar disponível.

Ser prestável e ser indisponível, são opções válidas, nenhuma mais do que outra. Cada uma quer viver-se num momento. Um SER HUMANO COMPLETO vive ambas. Isso é sinónimo de respeito e integridade consigo mesmo.

E ninguém pode saber o quanto ajudará alguém quando me permito estar indisponível para ser prestável!

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