segunda-feira, 6 de agosto de 2018

Quando é que nos vamos compreender uns aos outros?

Cada ser humano é único.
Temos caras diferentes, cabelos diferentes, corpos diferentes, alturas diferentes, pesos diferentes, experiências diferentes, familias diferentes, sonhos diferentes, trajetórias diferentes, gostos diferentes.

Quando acreditamos que precisamos de compreender (uma necessidade do ego) porque as pessoas são como são ou fazem o que fazem, o que conseguimos obter são sentimentos de frustração, impotência e revolta. É inútil querer compreender o que está fora do nosso raio de ação ou perceção. Não vivemos dentro de ninguém a não ser de nós próprios.
No entanto, é possivel uma compreensão, para lá daquilo que vemos e ''parece''. Quando a nossa mente (ego) se abre a escutar o Coração (Alma/Essência interna), novas perspetivas de paz ficam disponiveis para nós.

Cada um sente o que sente, pensa o que pensa, faz o que faz e nunca iremos compreender o PORQUÊ de ser assim. Não é possivel compreender a Fonte da Vida, a Fonte da Criação.

Ter esta compreensão de que nunca iremos compreendermo-nos uns aos outros totalmente - porque a vida é um mistério e o ser humano também -  já por si é uma compreensão que nos pode trazer alguma pacificação relativamente à ''necessidade de compreender o que se passa e compreender outros''.

Independentemente da necessidade humana de ''compreender'' da mente racional do coletivo (não é quem somos), a nossa vida continua. Continuamos a respirar, a levantar, a comer, a andar, a trabalhar, a vestir, a tomar banho, nas rotinas naturais do dia-a-dia, a sentar, a levantar, a relacionar e por ai fora. A nossa vida não pára pelo facto de não conseguirmos compreender o que nos rodeia nem os comportamentos humanos.

Quando queremos compreender a atitude de alguém

Poderemos falar com essa pessoa e perguntar-lhe diretamente o que o/a levou a agir assim, falar a partir do que sentimos  e ficar recetivo a escutar qualquer resposta que venha, mesmo que não coincida com o que pensávamos que iria ser; porque não estamos dentro da pessoa a sentir, pensar e viver a experiência, como nós a imaginamos.
Acreditar que podemos sentir o que a pessoa sente, é um mito.

E podemos compreender que haverá sempre coisas que não iremos compreender. Repetindo-me: não estamos na pele do outro, na cabeça do outro, não temos os órgãos do outro, a circulação sanguínea do outro... e quanto a mim...
Não sei por que razão me assusto e dou um grito quando me tocam no ombro!
Não sei por que razão gosto de lugares calmos, música tranquila, pessoas a falar baixo!
Não sei por que razão me sinto cansada quando estou um tempo ao pé de pessoas que falam muito! Prefiro estar ao pé de pessoas que falam menos.
Não sei por que razão à pouco estava alegre e agora estou nostálgica!
Não sei por que razão de manhã quando me levantei, tinha vontade de ir à praia e agora já me apetece ficar em casa a ler um livro e é isso que tenciono fazer!
Em relação aos outros, não será diferente!

Quando estamos mentalmente abertos e recetivos a ''não saber'' por que razão as pessoas são como, fazem o que fazem, dizem o que dizem, a não colocar rótulos, a não fazer pré-julgamentos do que não sabemos, abre-se caminho para o Amor e a Sabedoria ficar Presente nas nossas vidas e nas nossas relações.

Podemos arranjar explicações para o que vemos, pensamos, sentimos, só que não passam de interpretações do nosso campo de perceções  e não os factos em si.

Quando acreditamos que para a nossa vida funcionar ''precisamos de compreender o que se passa, o que dizem, porque dizem, porque fazem'', deixamos de viver a nossa vida para viver histórias da nossa mente. É inútil. Não traz nada de bom.

Deixamos de estar Presentes para nós.
Onde vai a nossa atenção será para onde vai a nossa energia, que depois não está disponivel para aquilo que gostamos, que queremos.

Estar consciente de que temos sempre opção para mudar de ideias, mudar de planos, ir atrás daquilo que nos faz sentir em paz connosco e que não são os outros que  estão encarregues dessa tarefa e sim nós próprios, pode ser a diferença entre ficar a olhar para o que se passa à volta a tentar compreender e olhar para mim e tomar nas minhas mãos a ação que for apropriada no momento.

Será que compreendo o que se passa no meu interior?

Será que ''compreendo'' quando o meu corpo ou a vida me dão sinais a pedir-me para abrandar a correria diária?
Ou será que só escuto os meus raciocinios que me dizem ''tenho de fazer isto tudo ainda hoje''!''Não posso falhar  perante esta pessoa, este cliente, este chefe, este amigo!''?

Será que ''compreendo'' uma emoção de tristeza que surge e me está a pedir para ficar comigo, em silêncio, para que eu possa refletir àcerca do que a minha vida me pede neste momento? 
Ou será que fujo destas emoções ''negativas'' por não saber lidar com elas e ainda não ter descoberto a sua utilidade sagrada?

Será que ''compreendo'' o que está por detrás do meu comportamento, no momento em que faço algo por ''dever'' como se não houvesse nenhuma outra opção?
Por exemplo: ''O Domingo é dia de ir almoçar a casa da mãe ou da sogra e, como é uma tradição, tenho o dever de cumprir. E assim vou por obrigação!''

Será que ''compreendo'' a luta que vai na minha mente quando pessoas e situações não são como eu entendo que deveriam ser?
Por exemplo: ''O pai reclama porque eu não consigo estar muito tempo a ouvir as suas histórias sobre a familia, em que muitos já morreram'' - por um lado sinto-me ''obrigada'' a estar ali a ouvir e não estou a ser genuina; e por outro lado reclamo com o pai porque é ''chato''!

Será que ''compreendo'' o que se oculta atrás de medos que me levam a ''esconder'' atrás de aparências e me impedem de expressar uma opinião diferente, um comportamento diferente, uma maneira diferente de fazer as coisas com criatividade?
Por exemplo: entrar em conversas de grupo, no café, sobre assuntos que não me interessam ou então tenho uma opinião diferente daquela que o grupo tem e não me atrevo a discordar ou ter uma atitude diferente? Para não ser a ''ovelha ranhosa''? (ou seja tipo ''se não és por nós és contra nós!'')

Será que ''compreendo'' que quando me esforço por agradar a outros estou a trair-me?
A filha quer que eu vá com ela a um Centro Comercial fazer uma compra naquele dia ou naquele momento; e eu que nem gosto de Centros Comerciais, proponho outra alternativa de ir à mesma loja noutro local. A filha, adolescente, insiste. E eu, contrariada, para deixar de ouvir as suas reclamações, cedo. O que será que acontece ao fim de muitas traições a mim?

Será que compreendo os meus racicocínios àcerca de como tudo devia funcionar e não funciona? E como isso me desgasta e me leva a andar num rolo de dramas diários que não trazem melhoria da minha vida? Há regras a serem cumpridas para o bom funcionamento de tudo: regras de trânsito, o que o chefe pede para fazer, o funcionamento numa empresa ou loja. Há regras necessárias - exceto as da nossa mente, que não são nossas, foram aprendidas e as quais nos impomos a nós próprios na vida diária.

Estas e outras tomadas de consciência (através de investigação) poderão trazer clareza mental, compreensão e paz emocional.

Será no mergulhar e investigar nos conceitos aprendidos, pensamentos de stress, que poderá ter uma compreensão que aclara a mente e aquieta o interior, bem como a maneira como vê as coisas, por aquilo que são, na Realidade, sem a distorção das interpretações que conhecemos... e muito provavelmente irá chegar-lhe compreensão àcerca daquilo que parecia incompreensivel.

Uma coisa são factos. Outra coisas é a interpretação daqueles factos!

Quando surge uma compreensão genuinamente sentida dentro de nós, no peito, de que a Vida neste planeta Terra inclui tudo...
Pessoas altas, pessoas baixas, pessoas gordas, pessoas magras, pessoas simpáticas, pessoas antipáticas, pessoas que falam alto, pessoas que falam baixo, pessoas que dão ordens, pessoas que comunicam suavemente; florestas e bosques que abrigam um ecossistema rico e variado; florestas que ardem; tremores de terra; países em guerra; doneça; saúde; desertos áridos; tubarões que matam; pessoas que matam outras ... 
e que não temos poder para mudar certo tipo de circunstâncias mas podemos mudar a maneira como agimos face a estas circunstâncias... a PAZ vem a caminho!
Em 16 anos de trabalho interior, 9 dos quais a fazer este Trabalho de Sombra, nada me trouxe maior paz do que a realização disto.


Ninguém poderá compreender-me enquanto eu própria/o não me compreender.

Quando quero compreender algo no exterior, trabalho-o dentro de mim. E surge compreensão. Não aquela que eu imagino. Uma compreensão que me faz estar em paz comigo, com outros, com o mundo, tal como ele é .
Tenho dado conta inúmeras vezes que a Vida/Universo vem em meu auxilio. De repente, tudo flui e deixa de haver esforço ou drama.

Eu posso compreender que temos opiniões diferentes e não preciso de defender pontos de vista.
Cada um tem os seus. Posso relacionar-me bem contigo na mesma.

Eu posso compreender que gostamos de fazer coisas diferentes e que não tenho de te tentar convencer a fazer o mesmo. Isso seria querer que deixes de ser quem és para me agradar. Eu tenho opção de me afastar do que não me interessa.

Eu posso compreender que me enganei no julgamento que fiz a teu respeito;

Eu posso compreender  que fiz o meu melhor naquele momento e saíu tudo ao contrário do que eu queria. Como posso corrigir isto? (em paz comigo, com a situação e com o que outro possa dizer)

Desista da necessidade de ''precisar de compreender'', quer goste ou não do que vê. Permita-se compreender que há coisas neste mundo que nunca iremos compreender, e quer gostemos ou não, é assim que acontece. E que temos sempre opção!

Não temos de compactuar com aquilo que não está de acordo com o que sentimos , com o que pensamos; não temos de gostar ou conviver com toda a gente. 

Boas reflexões.

Um abraço amigo,

Ângela
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Bem-haja!

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